Dica de Leitura - Neoplasias mamárias em cadelas Autor: Eduardo Nascente - Professor e medico veterinário
O artigo “Mammary neoplasms in female dogs: Clinical, diagnostic and therapeutic aspects” apresenta uma revisão abrangente sobre as neoplasias mamárias em cadelas, abordando aspectos anatômicos, fisiológicos, epidemiológicos, diagnósticos, terapêuticos e preventivos.
O texto inicia destacando o aumento da incidência de tumores mamários em função da maior longevidade dos animais de companhia e da estreita convivência com os tutores, o que reflete um contexto semelhante ao da oncologia humana. Ressalta-se que mais de 50% dos tumores diagnosticados em cadelas no Brasil são de origem mamária, com alta taxa de malignidade e significativa ocorrência de metástases e recidivas. Entre os principais fatores de risco, a influência hormonal é determinante: cadelas não castradas ou submetidas à castração tardia apresentam maior predisposição, assim como animais obesos ou submetidos a dietas ricas em gordura.
No campo diagnóstico, o artigo reforça a importância da anamnese reprodutiva, do exame clínico minucioso das cadeias mamárias e linfonodos, do uso da citologia aspirativa e, principalmente, da histopatologia, que se mantém como padrão-ouro. O estadiamento clínico pelo sistema TNM da OMS é fundamental para definição terapêutica e prognóstica. Complementarmente, exames de imagem, como radiografias torácicas, ultrassonografia abdominal e tomografia computadorizada, contribuem para a detecção de metástases. A imunohistoquímica, com marcadores como Ki-67, receptores de estrogênio e progesterona e COX-2, fornece parâmetros adicionais de prognóstico.
No tratamento, a cirurgia é considerada o método principal, podendo variar entre mastectomias simples, regionais, unilaterais ou bilaterais, de acordo com o tamanho tumoral, linfonodos acometidos e estadiamento clínico. O artigo ressalta que margens cirúrgicas adequadas são determinantes para reduzir recidivas. Em casos de tumores agressivos, metástases ou histotipos de pior prognóstico, a quimioterapia adjuvante é indicada, utilizando protocolos com carboplatina, doxorrubicina, ciclofosfamida e inibidores seletivos de COX-2. A associação entre cirurgia e quimioterapia mostra-se eficaz em aumentar a sobrevida em determinados cenários. Nos casos de carcinoma inflamatório, de evolução extremamente agressiva, a cirurgia não é recomendada, sendo preferível o tratamento paliativo com anti-inflamatórios e protocolos quimioterápicos.
No âmbito da prevenção, a castração precoce antes do primeiro estro é destacada como a principal medida profilática, reduzindo drasticamente a chance de desenvolvimento tumoral. Contudo, os autores ressaltam que o momento ideal para a realização da ovário histerectomia ainda é tema de debate, pois existem riscos associados à castração precoce, como predisposição a outros tipos de neoplasias e problemas ortopédicos em algumas raças.
Conclui-se que o conhecimento aprofundado sobre as neoplasias mamárias em cadelas é essencial para o manejo clínico e cirúrgico eficaz, permitindo diagnósticos mais precoces, tratamentos mais adequados e maior sobrevida, além de oferecer subsídios para a medicina comparada, dada a relevância translacional desses tumores para a oncologia humana.